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1.29.2020

O divórcio não estraga o "amor" às crianças.

Foi esta a mensagem que consegui reter no outro dia enquanto a Irene e eu conversámos sobre um dos vários namorados que ela tem. Não é por isso que ando a ler um livro sobre poliamor, no entanto. Não vou a esse extremo de pesquisa para compreender e apoiar a minha filha - ainda. 

Disse que tinha sido ela a pedir, que ele tinha pedido para pensar e que aceitou e que passaram o almoço todo a chamarem-se de namorado um ao outro. Também disse que eram namorados "emprestados" porque não se beijam na boca por causa dos micróbios (that's my girl, a fugir do herpes desde pequenina). 

No entanto, sem querer reforçar o romantismo da coisa - tem apenas 5 anos e acho importante que viva o amor da amizade antes de haver aquela pressão desmesurada para encontrar par romântico e começar nessas lides  - achei importante deixar claro que se um dia o namoro acabar (deve acabar em breve por causa de umas cartas Pokémon), que podem continuar a ser amigos como a mãe e como o pai. 



Sabem o que ela respondeu? 

"Sim, mas também podemos namorar para sempre como os avós". 

Da mesma forma que vamos buscar referências maternas ou paternas quando temos pais menos presentes ou mesmo ausentes, julgo que a cabeça das crianças também estará feita para se auto-equilibrar e ir buscar o que precisem para acreditar. Temos é que lhes dar espaço para fazerem as suas próprias trajectórias e dar-lhes cenários diferentes para estarem informadas e poderem oscilar entre vários parâmetros. 

O amor dos pais da Irene não foi para sempre, mas o dos avós é. E ela sabe disso. 

Um dos vários motivos pelos quais não me arrependo de me ter divorciado é que não proporcionei à Irene um modelo de relação conjugal sem afectividade e sem um ritmo ideal de coisas boas. Prefiro que, assim, veja e conheça uma mãe mais feliz e um pai também, ainda que não estejam juntos. 

Quanto ao amor? Vai surgindo na vida de um e de outro. E ela vai senti-lo sempre que houver.



1.13.2020

Ao meu ex-marido.

Que viagem, hã? 

Viste-me pela primeira vez naquela noite, num dos meus vários regressos a palco. Em que estava mais nervosa que sei lá o quê e agarrada a cábulas discretas em folhas coloridas. A ler dos papéis, envergonhada entre risinhos. 

Seguiram-se entrevistas, conversas intermináveis e finalmente o encaixe de expectativas e a pressa de viver o resto da vida. 

O casamento que não foi com o Elvis (também te perguntam sempre isso?) e alguns restaurantes e passeios bem curtos perto do hotel. 

Milhares de papelinhos e de alcunhas fofas, muitos jantares, muitos programas de televisão e, finalmente, o choque de ter decidido que sim, que era altura. 

Aproximou-nos mais saber que podíamos gerar vida os dois, estando os dois confiantes de que uma mistura nossa seria algo bom para o Mundo. E assim veio a verificar-se. 

Pegaste-a ao colo e, apesar de sentir tão pouco, senti tudo nesse momento. Entendi que fui a fábrica de um milagre e que te dei o bem mais maravilhoso que alguma vez terias tido até então. Fez sentido. 

Começou a angústia. Subiu o volume do meu medo, da minha loucura, da morte da minha vida anterior e todas as minhas inseguranças tomaram conta dos nossos ritmos, deixamo-nos de nos ver ainda que estivéssemos juntos praticamente 24h por dia. 

Era uma luta entre mim e a minha filha, nós contra o mundo e nunca soube bem explicar porquê, mas deixei de te ver. Deixei de te ouvir e inclusivé de sentir que pertencias a essa luta. Porquê luta? Porque foi difícil, porque doeu e porque estava cheia de medo. 

Foi tudo muito. E sei que ambos demos tudo o que tínhamos para que o sonho continuasse. Talvez tenha sido cedo, talvez tenha sido errado, talvez tenha sido tudo certo, mas com a mãe errada, não sei. 

Sei que, mesmo neste desafio grande que tem sido criar uma menina, ainda que não concordemos em tantas coisas e às vezes não saibamos falar um com o outro, que tens e temos honrado o compromisso que fizemos quando nos casámos (sem o Elvis) que foi amar, respeitar e cuidar até que a morte nos separe. 

Quero agradecer-te. Temos a sorte gigante de nos ter um ao outro e do amor ser sempre aquilo que está em primeiro lugar. Somos as duas pessoas mais apaixonadas pela nossa filha e, por muito que o tempo passe, ou que as nossas opiniões divirjam, já sabemos quando nos calar. 




Resta-nos o carinho e a amizade que sempre foi tanto. Tanto ao ponto de lhe termos chamado de amor. Impossível, mesmo sem filha, que nos deixássemos de falar porque temos o dom de escangalhar o outro a rir e o quão raro é fazerem-nos rir assim, não é? 

Fizeste 42 anos ontem e sinto que já tivemos a melhor prenda de todos os aniversários até hoje e os que ainda virão. Além de uma filha mais incrível do que alguma vez poderia imaginar, ganhei um amigo para a eternidade e que juro a pés juntos que não quero mais do que a sua felicidade, a sua plenitude e satisfação. 

Obrigada por amares e tanto a pessoa que construímos. 
Obrigada pela fé e vontade de melhorares o Mundo comigo. 

Sabes que poderás sempre contar comigo, a mãe da tua filha e tua amiga. 

Parabéns, velhote




6.12.2019

Isto acontece a todas as mães solteiras?

Deve acontecer. Pelo menos com a minha mãe acho que também aconteceu. Moramos sozinhas durante muitos anos e lembro-me de dormir na cama dela. 

A Irene implora por dormir contigo e... se vocês soubessem o quanto me custa dizer que não. Ainda para mais havendo espaço na minha cama para ela e poder abraçá-la a noite toda (e levar tareia desalmadamente também que o sono dela é... acima de irrequieto). 




Ainda ontem: "mãe, posso ir dormir contigo?".

Eu: Um dia podes, hoje dormes no teu quartinho.

Ela: Então fica aqui e nunca saias daqui.

Eu: A mãe está sempre por perto quando precisares dela. 

Ela: Fica aqui.

Eu: Por mim voltavas para a minha barriga e assim andavas comigo para todo o lado. 

Aiiiiii... Se pudesse engoli-la engolia. Transformava-a numa Polly Pocket e pronto, estava resolvido. Que chatice. Às vezes custa tanto fazer o que julgamos que é o melhor... principalmente indo contra aquilo que queremos...

De onde vêm as nossas forças? 

Claro que excepcionalmente dorme. E, sempre que está doente também, mas isso não há nada a fazer, eheh. 



2.14.2019

Depois do divórcio, ela quer juntar a família... o que fariam?

Como algumas de vocês poderão saber... o pai da Irene e eu divorciamo-nos. As coisas correram da forma mais tranquila possível e ambos ficamos muito mais felizes com esta decisão. Sendo que aqui não é "ambos os dois", mas "ambos os três". 

Podem ler aqui tudo o que já escrevi sobre o divórcio no blog. 

No outro dia, dois anos depois (acho que sim), a Irene perguntou ao pai quando a veio buscar cá a casa por que não punha o carro na garagem e voltou-se a explicar. 

E cada vez mais quer ver a família junta e propõe isso mesmo. Hoje, quando a deixei de manhã, implorou para que a fosse buscar e que os avós também e que fossemos todos jantar. 

Damo-nos todos muito bem. Neste caso, a "família" eram os avós maternos, eu e quem está comigo e também o pai. 



Porém, o pai acha que devemos só estar em conjunto (com ele incluído) nos momentos especiais, para não transmitir a mensagem "errada". Claro que sabendo que o pai não está confortável com a situação (por não achar adequado), não vou insistir e não se fala disso, mas... na minha opinião, não concordo. 

Acho que ela sabe que o pai e a mãe não estão juntos, que não são namorados (é o que lhe dizemos "o pai e a mãe são muito amigos, mas não são namorados") e o irmos jantar ou almoçar juntos, sendo que até eu irei acompanhada, ela perceberá o lugar de cada um e que todos juntos funcionamos como uma família. 

Mas claro que é delicado e há que respeitar. São formas diferentes de ver e de fazer as coisas. 

Nunca pensei que, divorciando-me um dia (que nem nunca pensei ser mãe, nem casar) que seria destes ex-casais que não se importaria de aparecer em conjunto nestas situações. Sempre achei que era confuso e desnecessário. Não sinto isso agora. Acho que estou em paz e quero que a Irene sinta que tudo se junta em torno dela, naturalmente. 

Conhecem situações semelhantes? Como fazem vocês? 




9.04.2018

Voltou mais cedo das férias com o pai.

Como vos contei (podem ler aqui em "Uma semana sem ela, vou sobreviver?"), estive uma semana sem a Irene, pela primeira vez. Sei que muitas de vocês têm de passar por períodos mais alargados, até há quem tenha custódia partilhada e, desde que os filhos são bem bebés, passam uma semana com cada pai, mas isto para mim foi difícil. 

Claro que não foi horrível. Tenho muitas coisas que quero fazer e que só posso fazer quando ela não está comigo. Nomeadamente: nada. A minha cabeça abranda em quase 75% e vejo outras qualidades minhas - das quais normalmente tenho saudades - a regressarem a mim mesma. Uma semana deu para ter um laivo da Joana que não está sempre preocupada com tudo o que tenha a ver com a Irene. 

A Irene divertiu-se muito com o pai e com os avós de férias. Fiquei de coração cheio a vê-la na piscina a brincar. Pareceu o timing certo para já passar uma semana inteira sem mim e agora tive a certeza. No entanto, no último dia, perguntou várias vezes por que é que ainda ia dormir um dia à casa do pai e não vinha logo ter comigo. 

Estava na dúvida se abria a excepção ou não. Visto que a conversa tinha sido "a mãe está a trabalhar, só pode a partir de terça". Ainda para mais agora com o regresso à escola, não queria muito que ela percebesse (mal) que existe alguma maleabilidade nestas situações - quando a mãe diz que tem de ir trabalhar, é porque tem de ir. Porém, como em tudo o que tenho aprendido nisto de ser mãe até agora - o meu coração dizia que sim. Afinal de contas, a minha filha estava a dizer-me que tinha saudades minhas e eu, a morrer de saudades dela, só tinha mais que lhe dizer que sim. 

Fui educada a ver todas as combinações como contratualizadas, como se não pudesse haver flexibilidade ou se pudesse seguir algum tipo de fluidez. Reconheço como uma boa qualidade minha esta pseudo-fiabilidade, mas há que "deixar a vida entrar". Se a minha filha perguntar duas ou três vezes por que é que não podia dormir comigo não é motivo suficiente para quebrar um plano, o que seria? 

E que parvoíce que é a minha cabeça. Acreditam que a minha cabeça ainda questionou se podia ser apenas curiosidade? Como se eu não fosse "uma mãe que desse saudades"? 

Afinal sou! E hoje fiz-lhe umas panquecas de espelta com linhaça, banana e ovo (ahah nunca pensei usar sequer estas palavras alguma vez na vida, quanto mais tê-las na minha cozinha) numa frigideira que comprei o ano passado... e pensei: "Porra, ela até tem sorte!".




Claro que não é por causa da porcaria das panquecas, mas acho que a Irene até tem uma mãe porreira. Imperfeita, mas porreira. Vocês conseguem ver o quão incríveis são? 

8.27.2018

Uma semana sem ela... vou sobreviver?

Tenho estado sem ela um pouco aqui e outro ali, mas nunca uma semana. Há abertura para que seja menos tempo da parte do pai, mas acho importante que ela passe a semana inteira com o pai, para que tenham contacto continuado  nas rotinas durante uma semana, mesmo que de férias. 

Eu tenho a custódia da Irene, não é o cenário mais frequente actualmente (do que dizem), mas é o que se adequa melhor ao nosso cenário. 

Esta semana vai-me custar tanto como, provavelmente saber bem, mas... tenho o coração apertado. Ainda para mais, depois de termos passado tantas férias juntas agora no Verão, o meu corpo parece ainda mais colado ao dela para adormecer, para tudo. 

Ela tem de crescer, ser de mais mundo e, neste caso, nem é "mundo", é o Pai. Vai para uma casa fantástica com o Pai e com os avós, vai ser só fabuloso. A mãe também vai aproveitar o fim-de-semana ali pelo meio e esticar a perninha na praia, mas... ahhh...

Quando ela voltar já vem mais crescida e não vi! 

Alguém que me perceba? Ou vou só receber comentários de mães a dizer que sou isto e aquilo porque não se quê?




Já agora, tudo o que tenho escrito sobre divórcio, aqui e aqui


7.09.2018

Não pensem que lá por ser blogger que o meu divórcio foi/é fácil...

Não pensem que lá por ser blogger que o meu divórcio foi/é fácil .

Há muita coisa que temos conseguido fazer com que funcione e muito melhor do que estaríamos à espera, mas ainda me parte o coração quando, nas passagens da Irene da casa do pai para a casa da mãe, existem momentos de grande tristeza dela.

Ficamos sem saber bem como agir. Ela expressa que está triste e o que depreendo é que lhe faz confusão quando passa a ter um, deixar de ter o outro.

Já tenho recebido algumas dicas como fazer as trocas na escola ou nalguma actividade. Quero muito ajudá-la porque lhe dói.

No meu caso lembro-me que quando chegava à casa a mãe estava sempre muito zangada, mas depois passava.

Querem dar alguma dica ? ❤️







4.27.2018

Também és do Pai.

És sim e ainda bem. 

Estás doente, tenho dormido contigo durante as sestas e à noite, mas é sexta-feira e é dia de ires para o Pai. Ainda bem. 

Ainda bem que vais porque o Pai também é aquele quem trata, que te dá mimos e que faz brincadeiras contigo para tomares os medicamentos. 


Pai também é aquele que, durante a noite, não dorme para ver se tens febre ou não. Ou, no teu caso, se estás a tremer de frio porque a febre subiu ou se estás a fazer uma nova convulsão. 

Pai é aquele que te pergunta se queres água porque estás doente e tens de beber água para não desidratar e é também aquele que pergunta o que queres almoçar e que faz a tua comida preferida quando estás doente.

Pai é aquele que olha para ti e pensa "se pudesse ficar eu doente em vez dela...". 

Por isso hoje estás doente e vais para a casa do Pai. Mesmo que eu não consiga deixar de pensar que gostaria de te ter juntinha a mim e ser eu a cozinhar para ti (o melhor que consigo) ou a dar-te água. 



O colo da mãe é bom por ser o da mãe e não por ser o único. E o do pai o mesmo. 

Vou dormir de certeza na mesma a pensar em como estarás, mas com mais forças para não dormir no dia seguinte. 

Hoje é dia da casa do Pai, amanhã já voltas. 


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3.16.2018

"Quero ir para a casa do Pai"

Isto foi no fim-de-semana passado. Tinha planeado ficar sábado inteiro em casa com ela a arrumar coisas, a organizar a minha vida, a fazer sopa - vocês percebem. Tinha acabado de arranjar uma prateleira do quarto dela e eis senão quando a Irene diz: "Quero ir para a casa do Pai!". 

Ela às vezes verbaliza que tem saudades ou, quando pergunta quem vai buscar, pergunta se é o pai ou se sou eu, mas nunca tinha sido tão clara: "Quero ir para a casa do Pai". 

Fiquei radiante. Dizer-me isso é sinal de à vontade. Dizer-me isso é sinal que reconhece o que sente e que verbaliza o que quer. Dizer-me isso é sinal (não que eu não soubesse), mas que gosta do Pai e quer o Pai. 

Disse-me que queria fazer uma videochamada.

Antes enviei umas mensagens ao Frederico a perguntar se ele teria disponibilidade e, apesar do fim-de-semana ser meu, porque é que eu achava importante que ela fosse desta vez e que isso não quer dizer que sempre que ela diga que terá que ir. 

Acho importante que haja a rotina, que haja o que está definido, mas sinto que, para a Irene, nesta altura, é importante que ela sinta que o Pai está disponível para a receber quando ela verbaliza que sente saudades dele. Numas vezes dará, noutras não. Desta vez deu. 

Fizemos a videochamada, ela fez um teatro de fantoches (com aqueles de dedos da Ikea), em que foram os bonecos a dizer que queriam ir para a casa do Pai. Passado um tempo lá foi o pai buscá-la e voltou a pô-la algum tempo depois que já tinha outras coisas combinadas. 

Fiquei muito feliz pela sorte que a Irene tem de a conseguirmos ver e ouvir e de ambos lhe podermos dar estes miminhos para que ela sinta que, apesar de separados, estamos unidos no que conta. 

Sei que isto não dará para todas as famílias. Há muitas relações que acabam depois de problemas sérios e que é difícil perdoar, esquecer. Há relações em que uma das pessoas está só concentrada em fazer mal por se sentir tão magoado e é tanta a dor que não se vê a criança. 

Para todas essas famílias, esses ex-casais, só peço que num dia de sol, como o  desta manhã, olhem para o sorriso do vosso filho ou filha e pensem: só isto importa. 

Mais amor, por favor. 


Damos o que podemos. Damos o que conseguimos. Nós temos muita sorte. Sinto que o Frederico e eu saltámos do barco antes dele se estampar contra a rocha e, por isso, embora nos tenha custado horrores, estamos os dois inteiros. 

Que bom ela querer ir para a casa do Pai e dizer-me. Ela sabe que a mãe fica, que a mãe não desaparece. Diga ela o que disser ou fizer. É amor incondicional.  


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2.05.2018

E definir a custódia?

A brincar, a brincar já passou quase um ano desde "o meu" divórcio. Nem sempre é fácil, mas tanto o pai da Irene como eu continuamos a ter uma das coisas que mais nos ligou: o humor. É o que nos tem ajudado a lidar periodicamente com birras, maus humores ou incompreensões de parte a parte (se nos entendessemos mesmo bem, teríamos continuado juntos, "lolinho"). 




Como os meus pais também se divorciaram, não me custou muito imaginar as coisas pela perspectiva da Irene, o que eu queria para ela, o que eu acharia melhor para ela de acordo com os meus princípios e aquilo que quero transmitir à Irene adaptado à minha visão da família (podemos estar divorciados, mas acho que somos uma família na mesma).  Não teço aqui comentários a outras maneiras de organizar as coisas, cada família saberá melhor o que funciona para a(s) criança(s) e para os adultos envolvidos. 

Apesar do Frederico e eu termos acordado que ele poderia ver a Irene sempre que quisesse durante a semana desde que dormisse em minha casa (claro que se um dia quisesse dormir com ela, nunca diria que não), acordámos que o cenário standard seria: todas as quartas-feiras a iria buscar à escola e depois a levaria a minha casa para jantar; e que, de resto, seria fim-de-semana sim, fim-de-semana não. 

Porém, achei que, para a Irene, passar do registo em que estava para este registo abruptamente dadas todas as outras mudanças envolvidas (deixar de viver com o pai, por exemplo) seria demasiado intenso e, por isso propús irmos mais devagarinho: desde que nos separámos até agora, a Irene dorme todas as sextas com o pai e vem ter com a mãe ao final da tarde de Sábado. Assim tem metade do fim-de-semana para cada um e tem sempre um dia por semana, todas as semanas para sentir o pai a dar-lhe banho, a adormecê-la, a cozinhar para ela... 

No entanto, tem vindo a crescer em mim outra perspectiva. Não sendo hipócrita, claro que a nível de gestão de tempo é muito mais prático ficar um fim-de-semana para cada um - tanto para poder passear sem a Irene como para poder passear com a Irene. Neste momento, tendo só a tarde e a manhã de domingo para ir aos avós ou para passear com ela, cada escolha se apresenta como uma decisão importante por ser "o meu fim-de-semana com ela". 

Idealmente, em breve iremos começar a cumprir o acordo tal como tínhamos previsto. Sendo que nada é estanque. E qualquer excelente ideia se sobrepõe e é conversada. A Irene tem a sorte de ter dois pais que - independentemente dos altos e baixos - comunicam um com o outro e, por isso nada precisa de ser tão recto e castrador. 

Aquilo que sei é que nenhum de nós alguma vez irá falar mal do outro em frente à Irene. Nunca o desautorizaremos e não a tentaremos virar contra o outro. E isto, para ambos, é regra de ouro. Seja qual for a birra do momento entre os dois - se houver - a mãe da Irene é sempre maravilhosa e a melhor mãe do mundo e vice-versa. 

Fotografia: Yellow Savages 

Mais uma mudança. Tudo com calma. 



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1.01.2018

A Irene não me chama "mãe".

Depois da fase em que se chamava Tomás e que tinha pilinha (parece que já passou, apesar de parte de mim se assustar, outra parte achava imensa graça e queria incentivar a liberdade de brincadeira), agora entramos noutra fase que também nos deixa desconfortáveis. Nem é por ela querer fingir ser outras pessoas, é a terceira geração que acha graça ao teatro e à representação, mas é por levar tão a sério. 


Quem é a Irene agora? É a Isabel e tem uma irmã que é a Luisinha. A mãe dela - sou eu, vá lá - chama-se Joana Paixão Brás (para quem seja novo no blog, é a outra autora aqui do estaminé) e o pai dela - continua a ser o mesmo, apesar da mudança de nome - chama-se David.  Por causa desta brincadeira, não lhe posso chamar filha porque é Isabel, não posso chamar-me de "mãe" porque sou a Joana Paixão Brás e não vou levá-la a casa do pai, vou levá-la a casa do David.  Ter uma "Luisinha", porém, tem dado imenso jeito para a "Isabel" ser a mana mais velha e ter que mostrar à Luisinha como é que se faz alguma coisa como "lavar os dentes" ou ir deitar-se sem birras. Há que tirar o melhor partido de cada situação, certo? 



Coisas que me deixam desconfortável/enervada com isto? Ela, de manhã, chamar "Joana Paixão Brás". Confesso que aquele "mãe" matinal amenizava o meu acordar e o "Joana Paixão Bráaaaaas" - apesar de te adorar, Joana - é como se fosse uma chapadinha. E, depois, claro que começa imediatamente a corrigir-me "não sou a Irene, sou a Isabel"... Ahhhhhh!!! Fazia o mesmo quando era o Tomás com o género dos adjectivos que eu usava e afins. 



Também não gosto, quando lhe estou a abanar o rabo para adormecer, que ela me peça para trocar a letra de "a Necas e a mamã" para "a Isabel, a Luisinha e a Joana Paixão Brás". Há uma parte minha que - infantilmente - tem medo que se perca nesse mundo de fantasia, não vos sei explicar. Além de que, por muito parvo que pareça, tenho saudades da minha filha!



Claro que há parte de mim que também tem medo - porque sou medricas e também porque não vivo só no lado concreto das coisas - que ela esteja a inventar pertencer a uma família que está junta e com uma irmã como se o "guião certo" a fizesse mais feliz.  Isto tudo, claro, porque me separei recentemente.



Há sempre tristeza, obviamente, mas rapidamente sou abraçada pela certeza de ter feito tudo o que tinha ao meu alcance e que este é o melhor cenário possível. Sem dúvidas. A vida não pode nem é sempre presa ao mesmo guião. A Irene agora é a Isabel. O que virá a seguir? 

Seja como for, Joana Paixão Brás, a Irene que é a Isabel, está cheia de saudades vossas e anda a pedir um fim-de-semana fora. Quando vamos? 

Camisola - Boboli 

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12.25.2017

Ao meu padrasto.

Lembro-me. Lembro-me quando te comecei a conhecer. Lembro-me daquele dia na praia e de uma bola colorida que ainda, por vezes, me colore os olhos. Lembro-me perfeitamente das brincadeiras de minutos, meias horas, até eu acabar de lavar os dentes. Os fantoches todos: o zé das couves, o diabo belzebu, o polícia, todos. 

Lembro-me perfeitamente das milhares de vezes que me foste buscar e pôr à natação, a todo o lado. Lembro-me de brincares comigo, tanto. De me ensinares a escrever, de contarmos histórias nossas cheias de aventuras. Somos os Jotas em busca do lingote de ouro. Somos os Jotas dos jogos de cartas, dos trabalhos de casa, das revisões de matéria para os testes. 

És com quem mais falei quando precisava. És quem falou por mim quando não pude falar. És quem, no meio de tudo, lá estava para fazer uma piada ou para brincar comigo a dizer que eras dos Excesso ou mostrando-me o cartão de sócio do Benfica acreditando eu que eras jogador de futebol e tendo contado à escola toda. 

Lembro-me do maior elogio que já alguma vez me fizeste e acredito em tudo o que tu dizes. És, sem dúvida, o maior pedaço de família que tenho, o que tem mais coração, mais certeza, mais serenidade.

Abraçaste-me (mesmo sendo, para ti, os abraços algo tão esquisito) como se fosse tua filha, com tudo o de mau e de bom. Com as minhas rebeldias, as minhas parvoíces, os meus sentimentos, tudo. E foste meu pai. És. 

Amor incondicional.

Salvaste a minha imaginação. E foste tu quem, tipo maestro, deu o seu melhor todos os dias para que a música nunca deixasse de tocar em mim. 

Quero agradecer-te como nunca irei saber fazê-lo por seres tão importante. Por teres aparecido, teres sido escolhido e por, sem me escolheres, me teres amado tanto. 

É inevitável ver-nos quando brincas com a Irene e tu és amor em pessoa. Amor e cuidado. Que sorte que tive por tu e a minha mãe se terem apaixonado um dia. Ganhei-te. 

Tu ouviste-me sempre. Desde pequenina. 

Obrigada. 

Não escrevo como o Pessoa (mas foi mesmo o melhor elogio que alguma vez recebi), mas espero ainda ir a tempo de te fazer sentir a Pessoa que tu és para mim até ao final dos nossos dias.

Feliz Natal, João. 


Toma uma fotografia de um pão porque sei que gostas muito :)

9.03.2017

Primeiro fim-de-semana sem a minha filha.

Estou neste momento a escrever este post com uma vista soberba, a ouvir uma banda que me diz muito depois de ter visto dois vídeos que o Frederico me enviou com a Irene na casa onde estão a passar este fim-de-semana com os avós. A minha filha nua. Nua nos braços do pai, na piscina, a brincarem ao "golfinho do meco". 

Apesar de termos acordado que a Irene passaria "fim-de-semana sim", "fim-de-semana não" com cada um, temos feito as coisas devagar e podia dizer que era só para o "bem da Irene", mas acho que é para o bem de todos. 

A primeira vez em que ela dormiu na casa do pai foi a primeira vez que não dormi com ela. Este foi o primeiro fim-de-semana, as primeiras três noites sem ela. Aliás, ainda está a ser.


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Ela está fabulosa. Está feliz, irrequieta e numa nova fase: está tanto a querer ser um bebé como "mais velha". Tanto quer maminhas, como diz "não quero maminha, para ser diferente". Está a crescer, com tudo o que isso quer dizer.

Este tempo sem ela entusiasmou-me. Vai ter muito pai, um pai que dança, que mergulha, que vai cuidar dela que a vai estrafegar e partir os ossinhos. Vai ter a avó que a alimenta, que a estrafega, que lhe mostra a beleza das pequenas coisas, que a faz gostar de pedrinhas e ervinhas e que lhe diz coisas como "Necas, já viste a cor do céu?". Consigo ouvi-las daqui: os risinhos e os inícios de birra. O avô sempre um passo mais atrás para controlar a retaguarda, para ver a big picture, sempre com um olho em tudo e o outro no resto.

A Irene a ser e a ser a maestrina dos corações de todos. 

Não sinto saudades. Sinto uma contemplação distante. Sinto que daqui consigo ver a Irene que temos. A Irene que é muito feliz, sem "apesar".  Estou genuinamente feliz por esta ordem das coisas que não só permite que todos nós a amemos sem merdas como também me permite desenterrar ou redescobrir a Joana que é profunda e extensa. Os meus braços servem para me segurar a uma cama de rede ou para dançar na piscina se estiver a dar uma boa música (ou tão má que dê a volta). Os meus olhos servem para me comover com uma vista lindíssima. As minhas pernas servem para ficar dormentes de estar tanto tempo à conversa sentada à mesa de jantar. As minhas mãos podem trabalhar levando-me o vinho à boca nos momentos em que ouço.  Os meus pés podem percorrer riscas direitas no chão sem ter que olhar para os lados ou para a frente com preocupações. Posso dizer asneiras, posso cantar no carro aos berros, posso falar sobre o meu passado, posso falar sobre o que me possui e começo a sentir-me. Posso adormecer e não saber onde pus o telefone. Não tenho relógio de pulso, sequer. O pôr de sol não significa nada que eu tenha que fazer. Posso ver. Só. 

Enquanto isto está a minha filha no colo de quem lhe quer o melhor. Enquanto isso a minha filha está a fazer o "golfinho do meco" nos braços do pai que a absorve ao milímetro com os seus olhos e que tenta reproduzir a beleza dela por palavras mas que nunca conseguirá, apesar de ser dono de palavras e de as saber fazer dançar. 

O primeiro fim-de-semana sem a minha filha é o primeiro de muitos fins-de-semana comigo.

Eu sou a mãe da Irene, mas tenho um nome.



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